terça-feira, 7 de agosto de 2012

o beijo

I

inclinamos as cabeças
(a lados opostos)
para evitar que se toquem
os narizes
– que eventualmente
cumprimentam-se
com carinho
ainda que entrando
no meio do caminho –.
cuidadosos
alternamos os lábios
alternamos os lados
para que nada saia errado.
neste momento
cada um vai construindo
seu próprio movimento
– eu rodando daqui
você girando daí –.
no entanto, é nessa singularidade
nessa discordância
que nos encontramos de verdade
que vibramos na mesma frequência.

II

não há coisa melhor
que em cada beijo
ser você
a última e a primeira
imagem que vejo.

III

toda viagem
é pouca
– curta
demais –
quando
o céu
é o
da boca.

IV

todo beijo
é um poema
mudo.

V

de fato
nossas palavras
se chocaram
mas
nossos beijos
mostraram
que o amor
não está
à míngua
mostraram
que a gente
ainda fala
a mesma língua.

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