quarta-feira, 31 de março de 2010

Swiss Cheese

Buracos, buracos e buracos.
É disso que sou feito.
Sulcos e ausência.
Buracos, buracos e buracos.

Retratos opacos,
Entraves retráteis.

Sangue que corre, que escapa.
Herói natimorto. Sem capa. Com acento.
O bem que morre, o mal que estripa.
Ser feito e desfeito. Sem despeito.

Buracos e pensamentos jogados.
E mais alguns buracos.
É disso que sou feito.
Confusões, confissões e esconderijos escuros.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Meia Noite

Meia noite
Noite e meia
Minha.

Note a noite
Noite e noia
Meia meia.

Noite nota
Nota em mim

Essa noite
Não tem fim.

terça-feira, 16 de março de 2010

Bloqueio

Tentarei fazer deste,
Meu bloqueio mais criativo,
Meu impasse mais defectivo,
Meu ato pensado mais impulsivo.

Vomitá-lo-ei, em frases curtas,
Em paráfrases enxutas
[E me fartarei das
breves (e incorretas) condutas.

Tudo o que se esconde de mim,
Desafia
[e se desvia
do já previsto fim.
Tudo o que a mente traçou,
Trançou-se e escorregou.

Eu continuo o mesmo:
Vazio de excessos,
Andando por cima das rimas e
Afogado em regressos.

Eu continuo o mesmo:
Guiado pelo progresso, mas
Bloqueado sob
[o inexistente e insistente
sol do infortúnio.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ilhas & Glaciais

Imploro pelo meu último pedaço de sanidade.
Me desfaço de todos os sonhos de diamante,
Das memórias de ouro e dos casacos de couro.
O que me resta nesta festa sou só eu.

Esse constante conflito entre um ser aflito
E um ser humano,
Volta de ano em ano.
Revolta em pleno jogo. Até quando soar o apito.

Me despi de toda a coragem,
Mergulhei nessa viagem sem querer.
Não sei nem sequer mais voltar,
Se a vida aprendeu a voar e isso é só uma miragem.

Imploro pelo meu último pedaço de sanidade.
Escondido sob esse medo inerente de ver tudo passar,
[ir passando,

E isso ficar...

Lacuna

Amor é o hiato entre a razão e a insanidade.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Quando Chove

Antigamente você tinha o mapa das nuvens.
Caravelas de vento, infinitas viagens.
De trovões tirávamos fotografias,
Sem portões exauríamos nossa alegria.

O crepúsculo seus olhos pintava.
De vermelho, laranja e azul.
Cor de fim de tarde. Horizonte nu.
Esperança e intemperança.

A chuva caiu sem saber porque.
Encharcou os campos e o parque.
Trouxe aquele cheiro de mato úmido,
E todas as lembranças que carrega esse banco tímido.
[E esses versos...

A chuva caiu sem saber porque.
Escureceu o céu e clareou as memórias.
Refez as histórias. As nossas e só nossas.
O cheiro do mato úmido ainda se mistura com o seu perfume tímido.
[Sempre que sento no nosso banco.
Seu e só seu. Pra sempre. Nosso e só nosso.

(...)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Aqui

Um sibilo insistente se fez presente
No instante em que você partiu.
Fiquei de peito aberto, vazio.
Me roubou o ar, a solidão desse eterno repente.

O silêncio da alma ensurdeceu os vizinhos.
Chegou de surpresa, veio de mansinho.
A porta que bate não traz você de volta.
Na porta, quem bate, é o som da minha revolta.

Como pode um amor,
Um dia arrebatador,
Fugir acovardado?
Estive eu, sonhando acordado?

A questão é que um coração que amou
Se divide em dois.
Fica metade com quem sou e metade com quem me dou.
Presente do peito, pra agora e depois.

Se hoje, não dividimos mais o mesmo centro,
Fique sabendo que você
Ainda existe. Aqui.
(Dentro).