sexta-feira, 30 de novembro de 2012

visita

hóspede extremoso
todo vazio
é meio espaçoso

terça-feira, 27 de novembro de 2012

crepúsculo

uma coisa é dizer
a palavra crepúsculo
– reduzida estritamente
às suas letras
fonemas e sintaxe –
pois toda palavra falada
diz muito pouco
(ou quase nada)
produz apenas ruídos
entendidos por nós
mecanicamente
sendo assim
o crepúsculo falado
produz um significado
que constrói um crepúsculo
imaginado 
mas deficiente e incompleto
falta-lhe o que a natureza
dos ouvidos 
(e do papel)
não comporta:
o excesso de vida.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

novembro (as mãos de Gullar)

se hoje vejo imagens
em poesia
foi Gullar
com sua maestria
de incrustar nas palavras
quadros minúsculos com paisagens
e de transformar versos
(ao tocarem o papel)
em centenas de milhares
de atalhos para tocarmos o céu.
num 18 de novembro
– na Avenida Paulista –
apertei as mãos
que escreveram
datilografaram
– e em mim
indiretamente
e permanentemente
gravaram – 
tantos poemas
as mesmas mãos
que transformaram o espanto
do cheiro de tantos jasmins
do olor do sabor das frutas
(até das bananas podres)
em mágica e lutas.
naquele dia
tudo virou
poesia.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

insônia

não é o calor
não é o frio
não é o som
dos cachorros
no cio
não é a luz
da cozinha
que vaza
pro quarto
não é o bebê
da vizinha
chorando alto
não é o estalo
da TV e do DVD
às duas e pouco
bem que poderia
mas quem rouba
o sono
é a cama
vazia.

meditação

elimine o peso
corte o que
te prende
– sejam raízes
bocas olhos
noites ou países –
elimine o peso
esqueça a gravidade
de assuntos perdas
problemas
da saudade
elimine o peso
quanto mais leve
a gente ficar
mais chances tem
de voar.

esquecimento

não há como
tornar desconhecido
algo
–em algum dia–
vivido.
tudo fica retido
mesmo que
acontecido
num breve
espaço de tempo
no piscar
de um momento.
a menos
que a gente
empurre
nada cai
no esquecimento.