segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

quadra

contra tal exercício
não há quem resista:
amar demais
engrossa a vista
antes 
de cada passo
deixo
de antemão
uma sobra
um espaço
em caso
de fracasso.
desde quando
você é
meu ainda?

cutucar

mesmo sabendo
que o gato atropelado
morreu
a gente ainda cutuca:
pega um graveto
ou usa o pé
pra atestar o óbito
o óbvio: morreu.
tem estômago
espalhado pela rua.
mesmo assim
a gente não digere bem
essa história de fim.
veja só eu aqui
cutucando você
com este poema.
o peito
é uma estante
de instantes.

fulano

você diz
que fulano
te vê mulher,
diferente
de mim.
que fulano
te vê assado,
e eu
te vejo assim.
veja bem:
fulano só
te enxerga
hoje,
enquanto eu
te vejo enfim.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

discursinho mole

há quem diga
que não se dobra.
repare: joelhos
juntas e articulações
existem para
esse tipo de situações:
salvar você da vergonha
de se quebrar
na frente de todo mundo.

magnetismo

atraio quem
passa rente,
feito para-raio
só que de gente.
basta orbitar
minhas esquinas,
deitar ao lado
tal qual horizonte
e já tá guardado.
sempiternamente
vivo e enterrado.

simultâneo

ficar
é ir embora
de algum
lugar.

o que guardo
de você
cabe numa caixa
de papelão
média.
o problema
não é arrumar
a caixa
ou as coisas
dentro da caixa
ou um espaço
para guardar
a caixa.
é que nunca
estou de mudança.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

ponto fixo

ando em círculos
para não me perder.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

id.eia

amar a ideia
da coisa
como se fosse
a própria coisa
mesmo sendo menos
este pouco é tudo
o que temos.

lugar

se afastar
até que longe
se torne
um lugar.
eu afundo
e você
nada.

trato

sejamos
menos presa
de quem nos
menospreza.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

rabo

viver
é perseguir
o próprio rabo
até se encontrar
ou ser
por você mesmo
encontrado.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

anatomia

em matéria
de composição
meu coração
é feito
de artérias
átrios
ventrículos
e tua mão.

desatar

que fique
entre nós
essa mania
de nos
desatarmos.

voz/vós

me encanta
a forma como
seu nome
virou 
um quadro
na parede
da minha
garganta.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

chuva

amor é
o caminho
mais curto
e sem curva
pra nadar
em alguma
nuvem
antes que
vire chuva.

chave

feito uma chave
encaixa numa
fechadura
minha mão
encaixa na tua
e a gente se tranca
do lado de fora
do mundo
pra construir
o nosso próprio
a cada segundo.

terça-feira, 29 de julho de 2014

demorinha

há demoras
mínimas
que atrasam
o pronto
basta
um segundo
pra passar
do ponto.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

museu, de novo

tenho apreço
por quem fui
ao seu lado
por isso
me pareço
tanto com
o passado.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

revira e volta

dispenso toda
e qualquer
escolta
que anule
uma possível
reviravolta.

terça-feira, 22 de julho de 2014

peça

o outro
é sempre um
quebra-cabeças
de 5 mil peças
com a imagem
panorâmica
de Paris
Londres ou
Nova York
e uma peça
faltando
que não é
você.

demora

acertar de primeira
às vezes leva
a vida inteira.

radiografia sexual da cidade

não é preciso
nem olhar
de cima
pra ver
que
a cada
cruzamento
nasce
uma esquina

quarta-feira, 16 de julho de 2014

peteleco

todos os dias
coloco em fila
seus defeitos
feito peças
de dominó
com o indicador
toco a primeira
delas
e assisto
ao tombo:
nenhuma
fica de pé
sou muito bom
neste jogo
pois é.

salto

meu
coração
passeia
usa artérias
e veias
e salta
do peito
pra boca
pra mão
até bater
no chão.

cisco

conservo
este cisco
na vista
pois
da vida
me bastam
as pistas.

margem de erro

em todas
as coisas
há uma
margem
de erro
um espaço
entre o acerto
e o imprevisto
entre o certo
e o insisto
uma margem
de erro
para eventuais
pontos cegos
para o que
eu disse
mas nego
para toda
placa de pare
que eu sigo
uma margem
de erro
entre o riso
e o berro
entre o sim
e o encerro.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

perspectiva

andar
em círculos
pode ser
insensato
caso não
se esteja
dançando
ou perdido
(que é
quando
se anda
em círculos
sem saber)
sair do lugar
pressupõe
o intuito de
chegar
a outro lugar
definir
um destino
para onde
se deslocar
ainda que
o trajeto
seja
circular.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

manha

há semanas
que manhãs
turvas
caem
como luvas.

rio

enquanto passa
o tempo corre
assim que passa
o tempo morre
a todo momento
o tempo ex-corre.

terça-feira, 1 de julho de 2014

caroço

é do caroço
que surge
a fruta
e no caroço
que ela
finda
esse troço
duro
feito osso
é o ainda
que dura
a sós
antes
durante
e após.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

funil

o amor
é um funil
que dissocia
o espesso
e dá espaço
ao sutil
tira das coisas
seu essencial
sem machucá-las
ou tirar sua cor
como um inseto
que rouba da flor
apenas o pólen
que lhe cabe
o amor 
é um funil
eis o porquê
da demora:
com sorte
pinga uma
só gota
a cada hora.

terça-feira, 24 de junho de 2014

pálpebra

vê 
se há nisso
algum nexo:
só te tenho
ao alcance
dos olhos
quando 
os fecho.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

cruzadas

a gente
ainda
tem jeito
mesmo com
o cansaço
eu cruzo
os dedos
pra você
descruzar
os braços.

terça-feira, 17 de junho de 2014

museu

sou 
um museu
seu
trago exposto
em acervo
permanente
tudo que
em mim
você esqueceu.

esforço

costumam fechar
os olhos
para se concentrar
melhor
veja alguém
com o rosto
contra o vento
certamente os olhos
estarão fechados
de certa forma
ao anular
um dos sentidos
aguça-se os outros
é científico
empírico
mas veja bem
quando penso
em você
fecho os olhos
pela exaustão
sua lembrança
é tão constante
que me ocorre
fechá-los
ao menos para evitar
o esforço de piscar.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

cadeira

toda cadeira
nasce sentada
sobre quatro patas
permanece apoiada
dia após dia
desde o dia
em que foi gerada
é completa em si
em sua arquitetura
projetada
seu encosto
feito coluna
quase lhe confere vida
mas ao invés de andar
prefere viver parada
seu assento
lhe dá o direito
de nunca esperar
e sempre ser esperada.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

dúvida máxima:
quantos olhos
cabem numa lágrima?

segunda-feira, 26 de maio de 2014

se

se desse
queria saber
no que 
pensa
enquanto
me esquece.

habitar

feito um grito
atravessando 
um cômodo vazio 
você passou
sacudiu a arquitetura
do silêncio 
e mobiliou o nada
com o projeto
mais exato
pregou sua voz
nas paredes
que até hoje vibram
entre o chão e o teto
o que me resta
é habitar teu eco
enquanto você
não volta.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

costura

tenho 
mãos nuas
apesar 
de tantas
linhas
faltam
as tuas
costuradas
nas minhas.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

aos que pedem tempo e aos que esperam

pés cravados
no asfalto
dedos
feito raízes
toda espera:
esse impasse
delicado entre
florescer ou
manter-se plantado.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

medição a dois

mede-se
em pés
a profundidade
a intimidade
se mede
deitado.

refém

todo penhasco
guarda em si
sua própria queda
emparedada
envelhecida
não há saída
a não ser 
estar sempre 
à beira
a apenas
um passo de
todo penhasco
é refém de sua
verticalidade.

proporção

na vida
polpa casca e caroço 
nunca vêm 
na mesma medida 
viver é
antes de morder 
ajustar a mordida.

terça-feira, 29 de abril de 2014

re-partir

esquecer o outro
em partes
a cada passo
fragmentá-lo
em menores
pedaços
criar caixas
com o vazio
dos abraços
a fim multiplicar
e otimizar
os espaços
guardar tudo
em local
de difícil alcance
pra que o cansaço
não compense
o acesso.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

destino

passamos tão rápido
um pelo outro
como se dentro
de trens
em sentidos opostos
somando velocidades
cada um com seu
corpo-vagão
de janelas bagagens
pessoas e portas-automáticas
curiosas essas viagens
em que se cruzam
apenas os olhares
e nada se pode fazer
com os trilhos
que dormem deitados
tranquilos
e insuportavelmente
paralelos.

por favor

tempo 
paciência
isso não é 
coisa que se peça
viver é pressa
esperar não compensa
se não for pra ser agora
só me dá licença.

alto

amar dá vontade
de subir
mudar o desenho
das nuvens
seja lá qual for
tomar fôlego 
e escalar o Everest
numa tarde
ver se na Lua
realmente muda
a gravidade
dá vontade de viver
no ápice
fazer de cada passo plano
salto vertical até o topo
como uma trilha em pé
é aí que a armadilha se dá:
o amor tece a corda
mas não amortece
a queda.

velocidade

aos físicos 
ficou destinada 
a descoberta
da velocidade da luz
pois que fique
por conta dos poetas 
descobrir a do escuro.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

pouso

tudo que cai
voa
brevemente
paira
sem que pare
totalmente
até chegar
tudo que vai
pousa
sempiternamente
no chão
ou em
algum lugar.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

ampulheta

somos ampulhetas
esperando a areia
cair de cima
para soterrar
lentamente
o vazio
mesmo assim
nunca seremos
completos
sempre
vai restar
a outra metade
e o tempo
vai continuar
acabando.

mudo

poucas vezes
nos vemos
no elevador
quase nunca
dizemos nada
enquanto isso
o elemídia
fala sobre
a alta do dólar
o sobe e desce
da bolsa
e o preço
do petróleo
atualmente
você desce
e eu subo
pensando
em como
até seu
silêncio
é interessante.

terça-feira, 22 de abril de 2014

desculpa

é pouco
sentimento
pra tanto
sinto muito.

de ontem em diante

hoje acordei
e ainda
era ontem
o despertador 
não tinha
tocado
tudo estava 
por nascer
hoje acordei
no passado
e tudo que
já passou
sequer tinha
chegado.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

cansaço

dizer seu nome
completo
me faz abrir
a boca
sete vezes
emendar
as aberturas
dá um bocejo
de mais
ou menos
dois segundos
ando preferindo
bocejar.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

tempestade

caia o raio
cem vezes 
no mesmo
lugar
o raio
que parta
em pedaços
todo esse
azar
e faça
das noites
em claro
caminho
para você
voltar.

chumbo

deixar no papel
tudo aquilo
que pesa
no peito
quilo por quilo
a poesia ainda
vai dar um jeito.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

pretérito pretexto

ando
meio lá
meio cá
como
se todo
o passado
fosse
pra já.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

ad infinitum

antigamente
era hábito
tirar foto
com mortos
maquiá-los
vestí-los
trazê-los
de volta
à vida
negar a ida
este poema
faz o mesmo
remonta você
ao meu lado
num retrato
bonito
que doi lento
mas traz você
sorrindo
até o infinito.

terça-feira, 1 de abril de 2014

segunda-feira, 31 de março de 2014

justo

não dá
pra ter folga
no encaixe
ou tá justo
ou tudo bate
tranque 
os braços
antes que
o amor caia
qualquer espaço
entre
faz com que 
ele saia.

poema surrealista

se entre
todos dali
você me
quisesse
aqui.

quinta-feira, 27 de março de 2014

fim no meio

o fim é o pedaço
do caminho
que entrou na frente
é um pé de mesa
no meio do passo
um poste
no meio do jardim
um nó 
no meio do laço
um tropeço
no meio do sim
de vez em quando
o fim chega 
adiantado
bem no meio
sem ser chamado.

terça-feira, 25 de março de 2014

dos dentes da frente

seus dentes
da frente
têm duas
manchinhas
dentista
nenhum
soube dizer
o que são
falta de
vitamina
desgaste
natural
pouco
flúor
etc. e tal
não sou
dentista
mas desde
a primeira
vez me atrevi:
são as coisas
mais lindas
que já vi.

segunda-feira, 24 de março de 2014

atrito

toda ferida
é atrito
do corpo
com a vida.

findo mundo

o que divide
o começo
do fim
são cortes
precisos
sucessivas
metades
de tempo
retalhos
de mundo
costurados
a nós
o fim
é um remendo
de tudo
por isso
doi tanto
assim.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Maria

ainda não sei
se é acrômio
ou úmero
mas com você
descobri melhor
os ossos do ombro
parei para ver
como se configura
o pulso
com seus tendões
e longas ligações
comecei a entender
por onde se
estendem as costelas
onde saltam
onde se escondem
Maria
suas mãos me fizeram
olhar pra dentro
sob a pele
me provaram
que eu existo
tanto dentro
quanto fora
suas mãos
me mostraram
tantos pedaços
em que posso
ser bonito
Maria
você me fez
infinito.

quer dizer

bendita
seja cada
palavra
escrita
dentre
todas as
não ditas.

reflexão acerca do vazio

o vazio guarda 
o que nunca 
foi escrito
o princípio 
de algo
em seu estado
absoluto
a vida toda
contida
num só ato
o vazio é
o que falta
para preencher
o nada
mais exato.

segunda-feira, 17 de março de 2014

aconchego

seu beijo
abraça
o meu.

ninho

suas mãos
planas planam
sobre as minhas
plantam planos
linhas do tempo
de longos anos
ou manhãzinhas
suas mãos
passarinhas
pousam sobre
as minhas
me acordam
fazendo ninhos
pois se cansaram
de dormir sozinhas.

segunda-feira, 10 de março de 2014

topografia geral das costas

as suas costas
têm coordenadas
vértebras que
vertem da pele
como se colocadas
milimetricamente
na geografia da coluna
não por acidente
seus ossos tomam
a forma de morros
montanhas e vales
por onde só se anda
com as mãos
a fim de sentir
os volumes e relevos
e assim traçar
uma espécie
de carta-corpo
com os detalhes
do terreno
as alturas e limites
escalas e desníveis
para logo após
com a carta em mãos
negar toda a topografia
e o estudo recém-feito
para pensar no ponto
exato aonde se perder.
nunca
-ainda que
uma
a
uma-
esmola
vai virar
fortuna.

quinta-feira, 6 de março de 2014

chama

há quem parta
deixando acesa
mais que uma luz
mas alguma chama
recordar a ida
pode ser sopro
ou algo suicida
a memória
e essa sina:
ora balde d'água
ora de gasolina.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

sobra

não sei medir 
o que sinto 
dosar 
minto se disser 
que sei 
troco metros 
por mililitros
confundo sentimentos 
e centímetros
me perco em minha
própria dimensão
quando me prolongo
no outro
inflo e dobro de tamanho
tornando gigante
o ínfimo
e infinito
o átomo
aí no fim
quando isso
acaba e se desdobra
vem algum poema:
longa e melancólica obra
de tudo o que sobra.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

agora jaz

seu rosto
não tem mais
contorno
ele vibra
é um borrão
em movimento
mais e mais
ele se parece
menos com você
e mais com a rua
com outro rosto
que tanto faz
chegou a hora
o agora jaz
e você vai
devagar
me deixando
pra trás
pra morar
no tempo.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

ensaio sobre não dizer

o não dito
ergue 
um muro
de vidro
entre quem
não diz
e quem 
espera ouvir
é patético
ver aquele
que silencia
tentando
se esquivar
atrás de algo
transparente.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

queda

pior que
a perda
da coisa
é o perder
da coisa
ver o tudo
virar quase 
reduzir
o eterno
à fase
cair 
lentamente
do topo 
à base.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

foi

vira elegia
todo poema
que te elogia

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

insuficiente

a duras penas
meu tudo
vai deixar
de ser
teu apenas.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

lembre-se

esquecer
nunca pode ser
um objetivo
um item de lista
um algo a fazer
esquecer
mesmo querendo
só acontece
sem querer.

ca-ir

cada olhar seu
é uma queda
mas o chão
nunca chega
só o céu.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

nada

quando
o amor
acaba
não fica
perna
sobre
perna.