terça-feira, 26 de junho de 2012

improviso pra menina do sorriso bonito

tem sorriso
que é gritado.
sorriso brabo
que morde forte
agarra
que rasga
o peito
de um jeito
que nem pede
licença
e que a mão
não alcança
pra arrancar
de lá.
sorriso que
se tranca,
que se empenha
em entrar
e se entranhar
nas veias
nas células
nos músculos,
sorriso
que dispara
o coração
num tiro
certeiro
e faz a gente
em pedaços
pra poder ser
inteiro.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

o mundo

o mundo é gelado.
como um grão
de areia seria
se fosse sozinho
num deserto imenso
de sol tão intenso
que derretesse
a si próprio.
o mundo é tão
gelado quanto
a chuva que pinga
torrencialmente
na pele nua
que lentamente
fica úmida de frio,
arrepiada
e gelada
como o mundo.
o mundo é gelado
como um bom dia
não devolvido,
como um silêncio
não interrompido,
gelado como um
estampido de saudade
que implode o peito
e abre uma caverna
de dimensões
estratosféricas
que fere
com um corte
preciso
um corte
perfeito. 
o mundo é gelado
porque não tem tempo
pra ser quente,
por mais que tente.
porque não pode
parar de girar
a incríveis milhares
de quilômetros por hora.
por ora, o mundo é gelado
porque as pessoas
também não têm tempo
pra serem quentes.
porque as pessoas
estão doentes
e geladas como o mundo,
que é tão gelado
quanto o grão de areia
sozinho no deserto,
quanto o bom dia
não devolvido,
quanto o silêncio
não interrompido,
quanto o estampido
de saudade e finalmente
quanto à chuva
torrencial que molha
a pele,
que se arrepia
só de pensar
em passar
nesse mundo
mais um dia.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

instinto extinto

a mão
no fogo
o medo
da dor
futura
queimando
o peito
cadê?
o pavor
da sombra
do brilho
da lâmina
da solidão
cadê?
o receio
a chance
da cara
provar
o gosto
do recheio
do muro
cadê?
cadê?
cadê?
o amor
torna
extinto o
instinto.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

angu de angústia

angústia
dura
que
perfura
o peito
e perdura
e perdura
e perdura
e se perde
entre
estilhaços
da ossatura
toráxica
porosa
angústia
dolorosa
respira
fundo
fundo
fundo
o ar
até não
sobrar
mais o que
respirar.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

veja pelo lado bom

na corda bamba
a gente
samba

encantado/encontrado

príncipe
(encantado),
princípio
de um
precipício
profundo.
edifício
negativo
que leva
pro fundo
que leva
pro limbo
da alma.
porque
toda busca
– a de Pessoa
e por que
não de todos
nós?
pelo que
é
só se for
imaginado –
é sempre
vã.
ontem
hoje
amanhã.

sábado, 16 de junho de 2012

sinto, logo existo

sinto muito
quando
não sinto nada

quinta-feira, 14 de junho de 2012

habitado

amar
transforma espaço
em lugar

por quê?

é só parar
pra ver
pode crer:
amor
sem pé
nem cabeça
pega no pé
e gruda
na cabeça
antes
que você
esqueça.

máquina viva

que inveja
das máquinas
veja:
seria perfeito
se um dia
a gente tivesse
no lugar do peito
um disco rígido
tão flexível
a ponto
de apagar
cada megabyte
de memória
viva
indesejada.
seria infalível
limpar o que
não presta
pra poder
guardar o que
resta.

era não

era
uma vez
que não
era.

coisa de louco é pouco

amor
é coisa
de louco:
estraga
se for muito
estraga
se for pouco.

fome de nome

gosto de
certeza.
verdade limpa
cartas sobre
a mesa.
talvez
não tem vez
comigo
meu amigo.
eu alimento
o que me farta
de garantia
que é,
não de que
vai ser
um dia.
hipoteticamente
falando
eu afirmo
categoricamente
gritando:
sentimento tem
que ter
rosto nome sobre
nome e pronto.
e ponto.
se não tiver
eu deixo morrer
de fome.

fim?

tem caso
que não
casa com
a realidade.
caso que é
coisa da
cabeça
e por mais
que pareça
ser coisa
concreta
– de carne
osso pele
matéria –
é coisa feita
depressa
da pressa
de querer
que o que
não é
venha a ser.
caso sério
esse tipo
de caso.
sério.
caso que nos torna
involuntariamente
voluntários de
um amor uma
paixão uma
vontade uma
saudade que
a mente
arquitetou
e se esqueceu
de avisar
a gente.
é caso sério
caso assim:
que nem
começa
e a gente
não consegue
pôr fim.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

sem

falta.
só existe
enquanto
sobra.




terça-feira, 12 de junho de 2012

em toda parte

só faço
parte
do que
me faz
inteiro.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

do amor e seus formatos

o amor
não liga muito
pra esse
assunto
de formato.
quando intenso
– de tão imenso –
mal cabe
no quarto.
mas de vez
em quando
se basta
num retrato
3X4.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

verbo do peito

o verbo
comum
– da boca –
fala pouco
demais.
é só
som
voz
mera
vibração.
o verbo
do peito
é o que
reverbera.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

breve

toda viagem
é pouca
– curta
demais –
quando
o céu
é o
da boca.

terça-feira, 5 de junho de 2012

de novo

tenho vontades
a esmo
de querer
tudo novo
até que
o novo
vire mais
do mesmo.

domingo, 3 de junho de 2012

silencio o mundo pra me ouvir melhor

o silêncio
que constrói
muros e
cercas e
divide o
mundo do
lado de
dentro do
barulho do
lado de
fora.
equilibra
as ausências
de sons
em uma
melodia
sensitiva
de pausas
e vírgulas
abertas e
fechadas.
o barulho
é a fachada
do caos.
basta um
ruído e
o mundo
está ruindo.

sábado, 2 de junho de 2012

tudo é o que não parece

a vida
é mal
resolvida

sexta-feira, 1 de junho de 2012

metAMORfose

roma
roam
ramo
rmao
rmoa
raom
mora
moar
maor
maro
mroa
mrao
orma
oram
omar
omra
oarm
oamr
arom
armo
aorm
aomr
amro
amor

dor gêmea

essa dor
eu conheço
de cor.
sim.
tin tin
por
tin tin.
cada centímetro
do seu
perímetro.
angústia
íntima.
me olha
dentro dos
olhos no
fundo da
alma,
como se me
conhecesse
mais que eu
– porque talvez
até conheça,
já que vive
entranhada em
minhas
velhas veias
que bombeiam
esse resto
de vida
em pó –.
dor que
me estraçalha
o peito,
que dói
porque precisa
viver.
dor escura,
sem cor.
dor do não,
do fim,
dor que geme
dor gêmea.
essa dor
conheço
de cor.