sexta-feira, 31 de julho de 2009

Uma Semente

Os devaneios da gente,
Cabem todos numa
Semente,

Que floresce no coração
Do otimista ao coração
Do não tão otimista assim.

Que dá cor aos terrenos devolutos
E renova a esperança
Num instante absoluto.

Que perpassa passado e presente,
E cuida da chama da vida
Com unhas e dentes.

Uma semente que vê conforto
Até em chão duro.

Uma semente chamada futuro.

Poeminha De Lógica

Quem tem sempre razão,
Nunca tem amor.

Ame Quem Esteja Disposto a Amar

Amar alguém que ainda procura
No coração,
O passado grão a grão,

É assistir à vida passar,
Sentado no meio-fio.

Na hora que assobiar o vento
E chegar o frio,
Verás que vazio não preenche vazio.

Manual De Explicação

Qualquer coração se manteria são, / Se todos os novos amores viessem com manual de explicação.

Aberto

Você me abriu um corte tão profundo, / Que nem toda a felicidade do mundo / Poderia me trazer de volta por apenas um segundo.

Ainda

Hoje o dia nasceu escuro,
E sem mostrar muito o rosto,
Escondeu o futuro.

A rua ainda anda sem iluminação,
Contando os passos com o tempo,
Tornando a esperança em vão.

Hoje o dia se perdeu,
Pois seu lugar na cama,
Ainda está vazio.

Minha alma ainda anda sem o brilho seu,
Vai ver que é por isso,
Que hoje o Sol ainda não nasceu.

Queria

Queria encher teu peito de significado,
Jogar fora todos os cacos do passado,
Prometer que nunca mais chegarei atrasado.

Queria gritar mais que a garganta aguenta,
Sumir por um dia pra ver se você me tenta,
Gostar de você mais do que aparenta.

Queria subir todos os degraus de uma vez,
Fazer propostas que ninguém jamais fez,
Tentar correr atrás do tempo que nos desfez.

Queria correr até as pernas não aguentarem mais,
Pra dizer que corri sem olhar pra trás,
Sem ficar pra trás.

Queria entrar no peito teu,
Pra plantar uma semente de amor
E esvaziar toda a sua cabeça
Que pensa que nosso problema sou eu.

Não Sou

Sem você, não me cabe
A existência,
Não me cabe lutar por
Independência.

Sem você, o giro não cabe
Ao mundo,
A alma é só um buraco
Profundo.

Sem você, a dor não cabe
Num só peito,
A solidão me acerta
Em cheio.

Sem você, o amor vira
Defeito,
Faz da vida um caminho
Estreito.

Sem você, o coração
Não é foz,
Transborda o que um dia
Fomos nós.

Sem você, sou vazio,
Sou ausência.

Sem Limites

Os limites da vida são a prova mais concreta da ausência de limites do ser humano.

Make A Wish

Se um gênio a mim viesse
E com claras palavras dissesse:
Tens, enfim, três pedidos
Para fazer pra mim.

Convicto e sem problema algum
Pediria para que reduzisse
Meus pedidos a um.

Esse um seria só meu
E dedicado a trazer de volta
Alguém que há tempos se perdeu: eu mesmo.

Confusão

Levava tão a sério essa história toda de amor próprio, que acabou morrendo sozinho.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

De parar o trânsito

A última mulher de parar o trânsito que me deu bola foi uma fiscal da CET. E só pra me avisar que eu estava sem cinto de segurança.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Lugar Comum

O amor começa e termina num lugar comum: na dor de se estar sozinho.

De Cabeça

A cada novo amor
Que a vida escolhe
Pra mim,

Me entrego tanto
Que cogito se chegarei
Inteiro até o fim.

Um Assassino Chamado Passado

Retirou da caixa a última bala que lhe restava. Com um ar de inquietude, recolheu do chão a coragem e a disposição que há tempos se atiravam para longe. Mal tinha força para abrir o tambor da arma que comprara semana passada. Suas mãos tremiam no compasso de uma canção saudosista, de despedida, cujo tema seria a dança de suas memórias póstumas, que movidas por um ideal de independência, circulariam pelo pequeno e úmido cômodo a partir do momento em que fossem violentamente jogadas contra a parede.
Por alguns segundos, pensou que pudesse aguentar o peso do passado, mesmo que isso tivesse o peso do mundo, somado ao peso do fracasso.
Estava enganado. Já não podia mais fugir, não podia mais se esconder. Sempre que refugiava-se no menor canto que fosse, deparava-se com suas implacáveis memórias, que tinham força o bastante para parar seu coração em um súbito segundo. Agonia. O peso de um suspiro minava seus pulmões, regava suas veias com o mais puro veneno do passado.
Era isso, estava decidido. Não se via apto a dar nem mais um passo rumo ao futuro, pois estava convicto de que sua vida havia se aposentado no passado, havia entregue o jogo para o pretérito, que, de tão imperfeito, transbordava o presente e alagava, em uma cheia enfurecida, o futuro que, agora manchado de memórias, perdeu seu motivo de ser.
A cada centímetro que a arma subia em direção à sua cabeça, sentia-se mais perto da redenção, mais perto de suturar aquele corte que não podia se fechar em vida. Posicionou cuidadosamente o cano em sua têmpora, e, sem demora, findou o sofrimento e a amargura que foram, durante anos, seu castigo diário.
Por um buraco de algumas polegadas de diâmetro, o produto de um passado doloroso estampou, acompanhado de um estrondo de libertação, nas paredes do pequeno quarto de um motel à beira da estrada, a morte de alguém que sentiu até a última célula do corpo que as lembranças não perecem, a morte de alguém que matou a si mesmo para livrar-se do ônus de uma vida que não aguentou viver.
Agora, com uma melodia suave, o vento assobia o paradoxo da vida e da morte e conduz as lembranças numa dança mórbida, que preenche o quarto com a certeza e constatação de que, às vezes, o passado veste-se de presente e anula o futuro. Munido apenas de uma bala.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Esqueço

Quando você me faz falta, / Esqueço de sentir falta de mim.

Paradoxo Sentimental

A palavra solidão é um paradoxo sentimental: brilha como o sol para existir, mas seu produto é uma baita de uma escuridão.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Solidão

Algo calou o silêncio.
Algo com uma aparência eterna, etérea.
Algo que congela, que destempera, desespera.

Os sons já não têm mais vida para gritar, os ecos já não têm
mais força para rebater.
Os pedidos já não se fazem mais ouvir.
Os ouvidos já exaustos, não conseguem nem ouvir a si próprios.

Algo causou um vazio.
Algo com um caráter indescritível, indestrutível.
Algo que cava tão fundo, que torna o vazio da alma o bastante
para se afogar.

Os passos passam pra trás a gana de passar.
O passar do tempo demora tempo demais a passar.
Os demais passam o tempo nos passando pra trás.
O futuro que antes se alimentava do novo, agora só vive do presente pra trás.

Algo escondeu o mundo num canto.
Algo que não se deve ligar tanto.
Algo que subverte o encanto, que se farta do desencanto.

As luzes já cansaram de iluminar os finais dos túneis.
Os caminhos já não levam a lugar nenhum, os desejos já não tem
motivo algum.
Os sonhos deixaram de brilhar no céu da alma.

Algo escondeu o sentido da vida dentro de um alçapão.
Algo que se protege do mundo com um grande portão.
Algo que se resguarda no buraco mais profundo, que um dia todos descobrirão.

Algo chamado solidão.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Fim

A vida é um deserto. / Decerto, implacável, / Irredutível.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Compra-se Felicidade

O tanto que se fala / Sobre o amor, / É o que ainda não se descobriu / Sobre a dor.

Amor Freudiano

Há gente que ama demais. / Não a ponto de ficar cego, / Mas o bastante para matar o superego.

Ego

Amor de leigo / Só faz bem pro ego.

Quando o vazio transborda

Os espaços vazios,
Que o amor antes em mim
Preenchia,

Agora transbordam,
Sem prever o fim
Da agonia.

Wish

Ele bem que tenta,
Mas não consegue
Abrir a porta.

Amor de verdade
Não se aguenta,
Não se comporta.

O amor não tem um pingo de ética

O amor não tem mesmo, nem um pingo de ética.

Vangloria-se, sagra-se o melhor, toma as rédeas desse mar revolto de emoções que navegamos diariamente.

Diz-se essencial para a vida de qualquer ser, seja ele racional, irracional, animal, esperançoso, pessimista, ansioso, calculista, genioso, egocêntrico, excêntrico, desmotivado, desacompanhado, acompanhado até demais, atrapalhado, iniciante, amador, jogador, profissional ou-qualquer-outro-tipo-de-ser-que-tenha-vida-própria.

O amor, esse mesmo, que se diz o mestre-sala do carnaval sentimental do ser humano, não sucumbe, jamais.
Às vezes passa desapercebido, pede umas férias, muda de casa, troca de roupa, some por uns dias, torna as noites mais frias.

Esse amor que se finge de morto, já matou demais.
Matou o tempo, matou o ódio, matou a cabeça pensante, matou o livre-harbítrio, matou a consciêcia, matou até mesmo a razão.

Quando digo que o amor não tem um pingo de ética, falo sério.

Ou só me sinto tão vazio, a ponto de deixar vazar a única coisa que o amor não mata, de jeito algum: a loucura de amar para sempre.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Falta

Sentir falta de alguém:

É dividir cada espaço em mil pedaços
E ainda sentir falta do seu abraço.

Sentir falta de alguém:

É dar um passo no compasso
Da saudade.

Sentir falta de alguém:

É ter vontade de esticar o braço
E apagar a luz no fim do túnel.

Sentir falta de alguém:

É prender o Sol num nó bem apertado
E viver só os dias nublados.

Sentir falta de alguém:

É travestir o futuro de
Espelho retrovisor.

Sentir falta de alguém:

É morrer de ódio por não conseguir
Controlar os ponteiros do relógio.

Sentir falta de alguém:

É sentir falta do tempo
Em que esse alguém
Sentia falta de você.

A Sete Palmos

Se o que tivemos um dia
Já morreu,

Fique sabendo que você
Pode ser o amor da
Minha vida,

Mas não o meu.

Vai-e-vem

Os amores mais
Devastadores,

Não são aqueles que
Já se foram,

Mas os que
Voltaram.

O Futuro (Quase) Chegou

Do jeito que anda a tecnologia, já já inventam alguma engenhoca capaz de revelar memória fotográfica.

sábado, 4 de julho de 2009

Dessa Vida Não Se Leva Nada (Muito Menos Da Minha)

Você saiu sem deixar um simples
Traço.
Deixou para trás o que chamou
De nosso.

Você deixou um lugar vazio
Na cama,
Deixou sumir no ar, minha voz
Que chama.

Você se foi sem levar nada demais
E me trouxe de volta, a metade
Do mundo que um dia deixei
Para trás.