terça-feira, 4 de agosto de 2009

Não Procrastinarás

Procrastinar nunca foi do meu feitio. Acho que isso às vezes se torna até um defeito. Um defeito responsável, mas defeito de corpo e alma.
Deixar tudo pra depois me consome. O tempo que eu perco me consome. Não consigo olhar o tempo correr e ficar parado, vendo a vida passar. Tudo passa depressa demais. Imagina se ainda por cima deixarmos tudo pra depois?
Em quase 20 anos de vida, fui extremamente ligado ao passado, mas vivi o presente como ninguém. Não deixo a vida passar sem mim, se é que posso afirmar. Tento fazer de cada minuto, um minuto a mais e não a menos. Além do mais, não sou muito bom com despedidas. Talvez seja isso que me faz correr atrás de cada minuto, pois acho que ficaria louco se tivesse que me despedir de cada um.
Tem gente que vive o antes e o depois e esquece de celebrar o agora, que, na verdade, agora mesmo já se foi.
Esse ciclo temporal é de enlouquecer, principalmente quando envolve sentimento. Aí sim, o tempo não é mais físico. É psicológico. É um tempo que anda no compasso do coração, que conta os passos a cada vez que inspiramos a coragem de ir pra frente e recua quando expiramos a convicção de que somos capazes de seguir.
Esse tempo presente, quando embrulhado num papel fininho de tristeza, é um belo de um presente de grego, pois ao mesmo tempo que parece nunca virar passado, empurra todos os nossos sofrimentos, mágoas e angústias pro futuro.
Sendo assim, passado, presente e futuro entram no infinitivo. O tempo se perde dentro de si, nós nos perdemos dentro de nós. Não sabemos mais o que é real, não conseguimos separar começo, meio e fim. Acho que quando esses três tempos se mesclam, é quando realmente temos alguma noção do tamanho do infinito.
Decepção amorosa é quase o sobrenome do infinito. Custa a passar. Anda a passos curtos, sem vontade. Parece se alimentar da nossa capacidade de olhar por cima do muro, de crescer o máximo que podemos, de corpo e alma. Parece nos impor limites.
Essa parede que se cria ao redor do nosso mundo, real e psicológico, um dia, atinge um ápice que não pode mais crescer, que chega ao máximo de si. Quando isso acontece, é hora de começar a subir, de buscar o sol que ainda brilha lá fora, de não perder mais tempo do tempo que se perdeu de nós. É hora de dar corda no relógio, de rasgar o embrulho de tristeza que a vida enrola a cada vez que sofremos um desamor. É hora de abrir o presente e recebê-lo de braços abertos. É hora de presentear-se com o dom da vida, de perceber que o maior presente que nos cabe a cada segundo, é o segundo seguinte.
Quem ainda crê que fugir da vida é o melhor remédio, já morreu e só esqueceu de se deitar.

3 comentários:

  1. Aí sim, o tempo não é físico, é sentimental.

    fudido, curti esse linha. desenvolveu legal.

    "Passado, presente e futuro viram infinitivo" nervoso hein. tirou sorrisinhos de aprovação.

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  2. adorei.
    coisas sobre o tempo sempre me encantam!

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  3. Eu poderia comentar de forma elegante o que eu senti lendo esse texto, mas acho que nesse caso, um "PUTAQUEOPARIU" é muito mais eficaz.
    Parabéns, mesmo.

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