quinta-feira, 19 de julho de 2012

poememória

um poema
não tem som,
mas se acerta o tom 
do teu peito,
logo vibra incandescente
e indiscutivelmente
ouves o efeito.
um poema também
não tem cheiro,
mas se eventualmente
traz em versos
uma flor e seu perfume
- talvez até uma moça
e seu perfume -
descola do papel um odor
impressionante e quase desconcertante
que embala o olfato numa viagem 
que nem mesmo a flor e seu perfume
e a moça e seu perfume
- de carne e osso e pétalas
e todas as partículas de perfume - 
puderam te imergir.
obviamente um poema
também não tem gosto,
mas inunda de água tua boca
- como um rio corrente
ou uma tempestade torrente -
se fala de fruta fresca se fala
de banquete.
um poema indubitavelmente
não tem mãos nem dedos nem braços
ainda assim te toca e te envolve
num longo abraço
- se por ti tem apreço -
ou te fura
te corta e te sangra
se por ti tem apenas pressa
e gana de ver tua pele aberta.
finalmente, um poema também
não tem imagem alguma
não traz fotos não traz focos
não é fotografia é pura ortografia
unidimensional e plana
puramente plana
todavia atiça teus olhos
- talvez até arrepie
teus cílios -
se te traz o nome do teu filho
se traz escrito e descrito
- com todas as letras
no papel -
as características de um rosto amigo
os adjetivos de um amor antigo
os substantivos do teu quarto.
um poema não tem som 
nem cheiro nem gosto
nem tato nem imagem
tem só um amontoado
de palavras e fonemas
que eventualmente já passaram
pela tua vida pelo teu ouvido
e despertaram teus sentidos,
talvez você tenha só esquecido.

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