quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Memória

Na sala só se ouve o silêncio das fotografias.
O grito dos sorrisos.
O pranto das lágrimas.
As sombras dançam a metros do chão, se movem numa ciranda de perda, numa canção de ausência.

Nas paredes abriu-se uma fresta de medo.
O vento assobia a insuficiência, congela os braços, as pernas, o coração.
Sopra o coma da vida, induz a tristeza a lutar.

Nunca foi tão difícil olhar o Sol lá fora.
Parece que ele cega a esperança, que ele se perde dentro do seu próprio brilho.
As estrelas apagam os desejos, ofuscam a imensidão do céu, transbordam o infinito.

Dentro do estômago, nada além do sofrimento de ontem, da certeza do amanhã.
O vazio do futuro preenche a solidão, toca a alma lá no fundo, onde nem mesmo da pé.
Parece ser fácil se afogar no vão, deitar no chão e se cobrir com sete palmos de terra.

Talvez seja a melhor opção, a mais satisfatória.
Talvez seja tarde para perceber que não se pode colocar os braços ao redor de uma memória.

Um comentário:

  1. Ela tá bem, só começou a esquecer tudo de repente. Eu acho que prefiro morrer do que esquecer, e foi isso que ela disse. É triste, cara.

    Eu me pergunto e uso aqui as suas palavras:
    O sol ilumina a esperança, ou cega ela?

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