a morte é uma ferida
em carne viva, quente
que se abre para dentro,
sob a pele, latente.
ferida sem sutura
por sua demasiada profundidade
e complexa estrutura
arde aberta, infinita.
sem compressa que a estanque,
ou cirurgia que no ato a reduza
sangra abundantemente e aflita
cumprindo o dever de ferida difusa.
contra tal ferida
não há como se precaver
pois ela se abre, rasgada,
aleatória, a quem a vida escolher.
no entanto a mesma vida há de trazer
no tempo um sopro macio, antibiótico
que toda dor minimiza e qualquer ferida
ainda que não se feche vê-se reduzida.
domingo, 27 de janeiro de 2013
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
A Alice Ruiz
quem lê Alice vê
um trabalho de anos
afiado, amolado
por um talento liso,
de pedra, tal qual uma esfera
livre de arestas, que medra
o mesmo tanto que alisa.
um talento espada,
de nobre fio, asitático,
de corte frio, prático,
cuja lâmina elimina sobras
tornando cada poema
escudo de quem ler
e quiser bater
de frente com a vida,
para fazê-la caber no verso.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
depressão
houve dias em que
corpo e cama eram um
não se sabia ao certo
o que era cama
o que era corpo
– se a cama havia virado
a fôrma do corpo
ou se o corpo havia tomado
a forma da cama –
era como se a cama
fosse o leito de um coma
induzido pela própria mente
era como se a alma
estivesse doente.
cama coma corpo casados
arrastando-se sob os pesados
lençois da melancolia.
corpo e cama eram um
não se sabia ao certo
o que era cama
o que era corpo
– se a cama havia virado
a fôrma do corpo
ou se o corpo havia tomado
a forma da cama –
era como se a cama
fosse o leito de um coma
induzido pela própria mente
era como se a alma
estivesse doente.
cama coma corpo casados
arrastando-se sob os pesados
lençois da melancolia.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
abraço
abraço bom
não parece laço
– que pra soltar
basta um puxão
e só –
abraço bom
é aquele
que parece
nó.
não parece laço
– que pra soltar
basta um puxão
e só –
abraço bom
é aquele
que parece
nó.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
máquina de sonhos
os vivos eventualmente
sonham com a morte
(que mesmo morta
sonham com a morte
(que mesmo morta
ainda é quente)
com a partida
na qual se deixa uma parte
que mesmo branda
é sempre dolorida
pois deixa-se aqui
tudo que cabe apenas
na vida
móveis cabelos beijos
violões e lençois
ao partir
some o medo de perder
pois ao morrer
ganha-se tudo
inclusive a eternidade
de viver como os mortos
(que mesmo mortos
vivem)
em sua atarefada
– e fantástica –
rotina repetida
de sonhar e inventar
sua própria vida.
com a partida
na qual se deixa uma parte
que mesmo branda
é sempre dolorida
pois deixa-se aqui
tudo que cabe apenas
na vida
móveis cabelos beijos
violões e lençois
ao partir
some o medo de perder
pois ao morrer
ganha-se tudo
inclusive a eternidade
de viver como os mortos
(que mesmo mortos
vivem)
em sua atarefada
– e fantástica –
rotina repetida
de sonhar e inventar
sua própria vida.
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
terça-feira, 27 de novembro de 2012
crepúsculo
uma coisa é dizer
a palavra crepúsculo
– reduzida estritamente
às suas letras
fonemas e sintaxe –
pois toda palavra falada
diz muito pouco
(ou quase nada)
produz apenas ruídos
entendidos por nós
mecanicamente
sendo assim
o crepúsculo falado
produz um significado
que constrói um crepúsculo
imaginado
mas deficiente e incompleto
falta-lhe o que a natureza
dos ouvidos
(e do papel)
não comporta:
o excesso de vida.
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